O primeiro motivo do nascimento e da existência da Economia de Comunhão é a pobreza: De fato, a EdC nasce como tentativa de resposta aos enormes contrastes econômicos e às desigualdades que caracterizam a sociedade contemporânea, com o objetivo de torná-la mais justa e fraterna.
A EdC não pretende eliminar a pobreza tal como ela é, mas antes combater a “miséria”, palavra que descreve a forma de pobreza “sofrida” ainda por milhões de pessoas no mundo, através da valorização de uma outra forma de pobreza, a “escolhida” por empresários, consumidores, cidadãos… que decidem renunciar a algo de próprio, usar os bens de maneira sóbria, escolhê-los responsavelmente, no conceito que “os bens […] tornam-se […] estradas de felicidade somente se forem compartilhados com os outros” (Bruni 2004)
Nesta perspectiva, a miséria, proveniente da falta de bens materiais, e a possibilidade de uma sua resolução, estão estritamente ligadas à promoção de uma série de outras condições (a educação, a saúde, o trabalho, uma casa…) que fazem com que um ser humano “floresça”.
Entre estas condições destaca-se, especialmente, a qualidade dos relacionamentos que se vivem: de fato, as relações na visão da EdC são entendidas como um capital fundamental para o desenvolvimento humano.
Esta ideia implica ainda um modo original de pensar nas estratégias de combate à miséria, atuadas nos projetos que a EdC apoia e promove: esses são delineados para evitar a instauração de formas de ajudas assimétricas, - como muitas vezes aconteceu na história – nas quais tem alguém que tem e que dá a alguém que não tem, marcando um estado de inferioridade e alimentando, normalmente, dinâmicas de dependência.
As estratégias de combate à pobreza atuadas pela EdC, procuram, acima de tudo, valorizar dinâmicas de reciprocidade, onde alguém pode oferecer a riqueza da qual é portador, colocando todos no mesmo nível de igual dignidade: irmão, membros de uma mesma família.


Mesmo antes da crise, por fazer parte de uma economia ainda em desenvolvimento, muitas famílias já tinham dificuldade para chegar ao fim do mês. Desde 2015, a situação só piorou, com desafios que aumentam a cada ano. É da Venezuela que nos escrevem Olivia e Héctor, que, mesmo em meio a tantas dificuldades, decidiram cuidar de Gerardo — um jovem autista de 29 anos que passou muitos anos sem um diagnóstico definitivo, entre médicos e terapias.
Olivia e Héctor nos ensinam que o compromisso de transformar a sociedade deve começar dentro de casa, apesar das inúmeras dificuldades que possam nos cercar. Quem poderia imaginar, em meio a uma crise nacional, cuidar de um desconhecido quando o pouco que se tem mal é suficiente para a própria família? Eis, então, a preciosa lição que Olivia e Héctor nos deixam: não se pode pensar em construir um amanhã melhor permanecendo no conforto, mas apenas arregaçando as mangas e indo ao encontro do outro com tudo o que se tem.









