IDEIAS E AÇÕES: Um jovem de Bragança Paulista (SP) consegue reverter a sua situação pessoal e, de assistido, passa a ser curador de pessoas e empresas coerentes com valores humanos
por Gabriel Oliveira
publicado em Cidade Nova, 01/2013
Quando tinha 12 anos, vivi um dos momentos mais felizes ao lado de minha mãe. Ela nos informou que nossa família havia recebido um grande presente: uma ajuda financeira mensal de empresários comprometidos em destinar parte dos seus lucros para o apoio a famílias em necessidade e para a difusão de uma cultura de fraternidade através de projetos de formação.
A Economia de Comunhão (EdC) – projeto que inclui empresas, agentes econômicos e cidadãos voltadosà promoção de uma prática e de uma cultura econômica voltadas para a comunhão, a gratuidade e a reciprocidade (edconline.org) – começava, a partir daquele momento, a fazer parte da nossa família. No começo, não entendíamos de onde vinha aquele dinheiro e pensávamos que só poderia ser de pessoas com muito amor.
Ao longo dos anos, essa ajuda serviu para diversas necessidades: alimentação, material escolar, gastos diversos e também para o aprimoramento de nossos conhecimentos, incluindo cursos de informática e inglês. Aos 14 anos, senti uma
forte vontade de dar às pessoas necessitadas todo o amor que a nossa família recebia. A partir daquele momento, começou a surgir dentro de mim um desejo de trabalhar pela EdC. Era uma forma de retribuir ao que eu havia recebido.
Mas por onde começar? Sempre refletia sobre novas possibilidades de negócio e o que poderia dar certo para meu sonho se tornar realidade. No ensino médio decidi prestar vestibular para informática, por julgar ser uma área em expansão, com grande
impacto na sociedade e alto grau de inovação. Em 2006 mudei-me para Porto Alegre e comecei a faculdade de Sistemas de Informação na PUC-RS, que concluí no final de 2011. Não foi fácil me mudar para um lugar a mais de 1.200 km de distância da minha família, mas a certeza de estar no lugar certo e fazendo a coisa certa me dava forças para seguir em frente. No início da faculdade também recebi a ajuda da EdC
para poder me sustentar. Depois de dois anos, consegui finalmente me manter sozinho. Sentia uma grande alegria de poder seguir adiante e começar a me preparar para também eu poder ajudar outras famílias.
Naquele momento eu já estava pensando em abrir uma empresa.
Em 2010 consegui meu primeiro emprego: uma conquista! Lembreime daqueles anos em que estudei inglês graças à ajuda que recebia, pois a vaga exigia domínio avançado no idioma. A alegria era imensa, a gratidão a Deus deveria ser com
partilhada com meus irmãos e tam
bém com os mais necessitados.
Comecei a fazer isso destinando parte do meu salário a uma das obras sociais do Movimento dos Focolares em Porto Alegre, a Associação de Famílias em Solidariedade (Afaso). A instituição oferece reforço escolar, atividades recreativas e alimentação
a crianças fora do horário letivo. Porém, sentia que podia fazer muito mais para ajudar e que minha vocação era abrir uma ou mais empresas.
Em agosto de 2011 deixei meu emprego e, com minha amiga Caroline Biehl, abri a Isonline, empresa especializada em consultoria na área de usabilidade e melhoria de sites. Durante esse tempo, percebi que a cada dia aprendia algo novo:
marketing, finanças, planejamento, metas e estratégia sempre estiveram em pauta e tudo foi assimilado com uma grande vontade de aprender.
Nossa empresa levantou voo e já somos filiados à EdC. Trabalhando numa economia de mercado notei que ser um empresário é um desafio, e fazer parte do projeto da Economia de Comunhão é um desafio ainda maior. Diversas empresas fazem o que bem entendem em nome do lucro, passando muitas vezes sobre as pessoas e so
bre outras companhias.
Ser um empresário da EdC significa, antes de tudo, seguir as regras do jogo e ser coerente. Além disso, significa priorizar os relacionamentos, seja com fornecedores, clientes, funcionários e até concorrentes. O compartilhamento do lucro com quem passa por necessidades deve ser um reflexo dessas atitudes e de muito suor.
Depois de dez anos em que senti o desejo de viver de acordo com essa realidade, percebo que estou no caminho certo e que ser um empresário nestes moldes requer vocação, ou seja, devo alargar o coração cada vez mais para poder viver essa realidade com redobrado protagonismo e disposição.