A valorização das relações interpessoais como base para a difusão de uma cultura mais fraterna em todas as etapas da formação
por Thiago Borges
publicado em Cidade Nova, 09/2015
A cultura da partilha, em detrimento daquela que privilegia o acúmulo de bens materiais, é um dos pilares da Economia de Comunhão. Tanto é que as empresas que integram o projeto são convidadas a destinar parte de seus lucros à promoção dessa cultura. Um empresa em particular conseguiu fazer dessa visão de mundo o seu diferencial no mercado: a Escola Aurora.
A instituição oferece Educação Infantil e ensinos Fundamental e Médio. Além da instrução formal, a Escola Aurora tem uma atenção especial para os relacionamentos entre alunos, professores e funcionários. O compromisso maior é sempre com a formação integral do ser humano, como conta a diretora, Ana Maria Correa. Segundo ela, a cultura da partilha é trabalhada “dentro de contextos e reflexões”.
“Posso dar um exemplo. Existe um livro que é dado na aula de espanhol que conta a história de uma família espanhola que vive no Peru ou na Bolívia, não me lembro exatamente. Na história tem uma menina que trabalha na casa dessa família e tem a mesma idade da filha desse casal espanhol. E ela fica um pouco chocada porque a menina tem a idade para ser sua amiguinha, mas está trabalhando para ela porque não tem as mesmas oportunidades. A professora percebeu que os alunos não entendiam direito, viam aquilo como algo natural. Então a professora pesquisou na internet e encontrou um vídeo de uma criança que trabalha numa mina e que tem as mãos todas destruídas pelo trabalho. Quando os alunos viram a imagem, eles se deram conta da situação. Então a gente mostra a situação e dá a reflexão. A partir da reflexão nascem as atitudes. E isso é feito ano a ano. Acaba culminando em algumas ações concretas, como a ação do Natal. No ano passado, a ação do Natal foi feita com a Educação Infantil. A ideia era o aluno trazer o brinquedo que mais gostava em bom estado para doar. Chegou uma hora que a gente não sabia mais onde pôr brinquedo”, conta Ana Maria. Ela reconhece, porém, a dificuldade de essa cultura penetrar na sociedade de hoje, que já tem “enraizado” um paradigma de consumo.
A empreitada não é simples, mas a escola aposta na valorização das relações interpessoais como base para a difusão de uma cultura mais fraterna em todas as etapas da formação. “O relacionamento que se tem na escola permeia toda a equipe e é passada aos alunos. Às vezes se fala de caldo cultural na educação. Essa questão do relacionamento educa mais do que mil palavras. É um diferencial grande, que é uma prioridade para toda a equipe”. Por consequência, a escola acaba formando pessoas preparadas para lidar com as diversidades e adversidades das interações sociais e os alunos colhem frutos importantes no futuro.
“Teve um ex-aluno formado aqui na escola que nos procurou para contar que, quando foi procurar o primeiro emprego, ele participou de uma seleção de 2 mil candidatos para duas vagas”, relata a diretora. “Na primeira etapa selecionaram dez. Na segunda fase foi avaliado exatamente o relacionamento. E ele foi selecionado. Então veio nos dizer que só passou na vaga porque tinha estudado aqui”.