Os efeitos danosos sobre a economia mundial, das escolhas erradas feitas pelos líderes mundiais diante da pandemia
por Alberto Ferrucci
publicado na revista Città Nuova em 24/04/2020
Os acontecimentos destes meses parecem sugerir que o planeta Terra, cujo o dia recentemente foi celebrado, encontrou uma maneira de se defender da agressão ao equilíbrio que levou milhões de anos para conquistar, e que permitiu que a vida florescesse, fazendo dele a maravilha que é.
Responsável por essa agressão - negando de fato a inteligência e a consciência que lhe é atribuída - é a forma de vida que é considerada a flor da evolução, aquela humanidade que até agora se demostra surda às muitas advertências que o planeta tem lançado nos últimos tempos.
Aqueles que escolhemos como líderes em todo o mundo não levaram a sério o derretimento das geleiras na Groenlândia, os incêndios na Amazônia, Austrália e Califórnia, as ondas e ventos que destruíram as costas e derrubaram as florestas e os protestos dos jovens. Nem sentem um sentimento de culpa diante das famílias vindas da África ou do Oriente Médio, que tiveram que deixar as suas terras porque os vapores ou as armas produzidas no mundo desenvolvido as tornaram inabitáveis.
O planeta se defende, permitindo que a atividade frenética da espécie humana espalhe um vírus, que talvez tenha escapado por falta de cautela de um laboratório de pesquisa, ou que tenha sido transmitido por morcegos tratados pelos humanos de forma inadequada: o fato é que existe uma responsabilidade humana na origem de uma pandemia que mata mais civis a cada dia do que aqueles que morreram diariamente nas guerras mundiais.
Uma circunstância que como nunca, também atinge a economia: o consumo de petróleo em um mês caiu de 100 para 70 milhões de barris por dia e o excesso produzido foi tão acumulado pelos especuladores de petróleo, a ponto de ocupar três campos de futebol, estando parados nos pátios dos grandes portos industriais.
O petróleo está passando pela sua própria "tempestade perfeita", porque a queda do consumo aconteceu justamente no auge da produção dos Estados Unidos com a técnica de fracking (fracionamento hidráulico), enquanto os outros dois grandes produtores, Rússia e Arábia Saudita, estavam negociando novas reduções da produção para manter o preço internacional estável. Assim, o notável corte de produção anunciado tardiamente, não foi suficiente para manter a cotação, que nos Estados Unidos caiu diante do inevitável fato de que não havia mais espaço para armazenar novas matérias-primas. A fim de não interromper a produção, os operadores, pela primeira vez na história, estavam dispostos a pagar até 37 dólares por barril, àqueles que adquirissem imediatamente uma quantidade.
Os Estados Unidos é um país maravilhoso com muitos méritos, mas grande parte da responsabilidade pela situação, recai sobre a sua indústria petrolífera que impulsionou a extração de forma insensata, desconsiderando o fato de que nesse ritmo, as reservas do país se esgotarão em dez anos e que o fracking provoca terremotos devido à fratura profunda do solo, sem falar na poluição dos lençóis freáticos e, sobretudo, na emissão de metano na atmosfera, um gás de efeito estufa vinte vezes mais prejudicial do que o dióxido de carbono.
A busca desenfreada de receitas para pagar os grandes investimentos transformados em dívidas, contrariamente, está zerando os lucros: a perspectiva de perdas futuras devido aos custos de produção mais altos do que os da extração tradicional, preocupa Trump, pelos muitos empregos colocados em risco.
O preço do petróleo a ser entregue nos próximos meses se mantém baixo, mesmo que seja apenas por causa de tudo o que já está disponível para os consumidores nos navios petroleiros. Será um grande problema para os países que captam recursos de sua exportação, como por exemplo a Rússia, a Arábia Saudita, a Nigéria, a Venezuela, o Irã, a Argélia, etc. Infelizmente, isso é um problema para a planejada mudança do consumo de energia para energia renovável, pois será menos vantajoso.
Estamos próximos da fase 2 da pandemia, da retomada, ainda que com cautela, das atividades: esperamos que isso aconteça em breve, mesmo que os céus limpos e os rios transparentes desapareçam para os nossos jovens, que talvez antes, nunca tinham tido a oportunidade de admirar.
A história nos ensina que as grandes tragédias ajudam a humanidade a despertar a consciência: dos milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, nasceram as Nações Unidas. Esperamos que o atual desastre econômico induza pelo menos a Comunidade Europeia a recuperar o senso de colaboração, a perceber que nenhum país pode progredir sozinho, que no mundo de hoje "amar a pátria dos outros como se fosse sua" não é heroísmo, mas uma necessidade.
Agora são necessários muitos recursos para sustentar as atividades de produção e o trabalho daqueles em dificuldade: uma forma de recuperar alguns desses recursos seria o de compensar a redução dos preços do gás e dos combustíveis, induzida pela queda dos preços do petróleo, com uma "taxa de carbono" aplicada a todo o consumo de energia proveniente de combustíveis fósseis.
Um preço estável dos combustíveis fósseis evitaria o desperdício de energia e consolidaria o incentivo econômico oferecido pelas energias renováveis, em particular às iniciativas para reduzir o consumo já incentivado por lei, no caso do aumento do isolamento térmico das habitações.
Também é improvável que o preço do petróleo suba: o consumo será retomado apenas um pouco de cada vez e será facilmente suprido pelo petróleo dos muitos superpetroleiros que aguardam nas estradas a um custo de 300.000 dólares por dia.
Não será fácil fazer com que muitos produtores no mundo concordem com cortes de produção que são tão importantes, e que para muitos são politicamente insustentáveis, sem que alguém se aproveite disso, não os respeitando: um problema que também envolve os Estados Unidos, onde existe uma possibilidade real de falência para uma série de empresas do setor de fracking.
Paciência, os Estados Unidos não vão falir por causa disso: e o planeta respirará melhor, pelo menos por um tempo.