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#Covid-19 e EdC - Itália, quando a atenção à pessoa, praticada durante anos, faz a diferença

Como os empresários italianos da EdC se organizaram no período de lockdown? De onde surgiram as ideias para encontrar todas as soluções possíveis para salvar as suas empresas e os empregos?

por Antonella Ferrucci

No dia 22 de abril, o webinar organizado pela AIPEC e pelo Polo Lionello Bonfanti reuniu o testemunho de alguns empresários. Estiveram presentes Pietro Comper (Tecnodoor) Paolo e Livio Bertola (Bertola srl e High tecnology Italia), Maurizio Cantamessa e Simona Rizzi (Gruppo Tassano), Domenico Panichi (Il Picchio) e Ornella Seca (Agente de Seguros em Abruzzo). As respostas que deram às perguntas foram surpreendentes em sua simplicidade, concretização e eficácia. O fato de terem praticado, durante anos, a comercialização dos "bens relacionais" nos seus negócios, colocando funcionários, clientes e fornecedores no centro, parecia que hoje lhes proporcionava um recurso extra em responder prontamente a uma emergência que os pegou um pouco menos despreparados. Sintetizamos algumas de suas experiências, moderadas pela jornalista Eugenia Scotti e comentadas pelo professor Giuseppe Argiolas, novo reitor da Sophia.

 Pietro Comper 01 ridPietro Comper, produz e vende portas, portões e grades em Rovereto (TN). "Já faz alguns anos que, quando surge algum problema na empresa, conversamos sobre o assunto juntos, e assim também está sendo dessa vez. Tínhamos alguns trabalhos acumulados, portanto não fechamos imediatamente. No que diz respeito ao trabalho home office, há alguns anos, tivemos uma funcionária que se mudou para a Puglia, logo, experimentamos essa experiência e por isso agora foi mais simples nos organizarmos para que o trabalho fosse feito de casa. No entanto, para os funcionários empenhados na produção e montagem não foi tão fácil decidir como se organizar: os deixamos livres para escolher, com a certeza, em virtude das relações construídas ao longo dos anos, que não existiriam recriminações. Foi natural ouvir as necessidades de todos e decidir que aqueles que tinham avós em casa ou uma família com filhos pequenos, tinham que estar entre os últimos a serem reintegrados ao trabalho. Aqueles que não se encontravam em situações particulares se disponibilizaram imediatamente para continuar a produção em segurança. A cultura da confiança, do confronto e da escuta que criamos nos últimos anos na empresa, tornou natural, "normal" agir dessa forma e esta é uma das coisas mais belas que estamos experimentamos nesse período".

Paolo e Livio Bertola possuem duas empresas em Marene e Cherasco (CN) que realizam cromagem para várias grandes empresas do setor automotivo na Itália e no exterior. Livio Paolo Bertola ridA covid-19 os surpreendeu em um momento que esperavam recolher os frutos dos grandes investimentos realizados nos últimos dois anos. Paolo Bertola: "A Economia de Comunhão, de fato, acabou sendo o primeiro bom investimento feito durante esses anos e justo nesse período pude ver os frutos desse estilo empreendedor; toda a importância deste item do balanço, que são os "bens relacionais", construídos com colaboradores mas também com fornecedores e clientes, veio à tona. Mesmo estando em um momento de plena produtividade, paramos e nos confrontamos para compreender as necessidades de todos e, uma vez atendidas as urgências, decidimos parar nossa produção mesmo antes do Decreto do Governo". Livio Bertola: "Gostaria de compartilhar uma experiência. Uma empresa multinacional para a qual prestamos serviço há 30 anos e que insiste em buscar uma estética exasperada, enviou-nos de volta um lote de artigos com imperfeições muito leves, alegando que a qualidade não era suficiente por razões estéticas. Na época do Coronavirus, esta atitude nos chocou: Essa peça já havia sido submetida a um processamento muito trabalhoso e também de impacto ambiental. Mas por respeito à terra e ao meio ambiente, não fazia mais sentido continuar com essa cultura da rejeição do imperfeito! Dissemos ao nosso cliente, pronto a perdê-lo, que não compartilhávamos dessa ideia e que acreditávamos que se pode produzir peças imperfeitas (talvez a imperfeição seja um ponto minúsculo, visível através de uma lupa) porque esta exasperação produz uma poluição sem precedentes em todos os campos, (basta pensar na agricultura, onde uma maçã que tem uma pequena imperfeição é descartada) e isso não pode mais ser aceito. Pretendemos continuar esta batalha porque, segundo nós, o mundo está salvo mesmo com essas imperfeições".

171110 Sestri Levante Tassano 03 400 ridSimona Rizzi e Maurizio Cantamessa representam o Grupo Tassano de Casarza Ligure (GE), que engloba cooperativas e empresas sociais com uma forte vocação de integração do trabalhador no mercado e o cuidado. O Caminho de Arianna é um desses empreendimentos, todos do sexo feminino, que fez da escuta das necessidades e do cuidado de seus trabalhadores um de seus pontos fortes. Simona: "Durante esses anos temos trabalhado com uma grande atenção à harmonização do tempo da vida com aquele do trabalho, portanto, de uma certa forma, o momento particularmente difícil que estamos vivendo hoje não nos pegou desprevenidos. Demonstramos grande flexibilidade e prontidão para agir na reorganização da vida da empresa e isso é o resultado de anos de trabalho e atenção à pessoa em sua singularidade. A maioria de nós somos mulheres, com isso assistimos durante esses anos o nascimento de muitas crianças, cuidamos de pais idosos, enfrentamos juntos momentos dolorosos e isto nos tornou mais fortes. Em um curto espaço de dias, preparamos o projeto "Onde amiche, comunità in rete" (Ondas amigas, comunidade em rede), que recebeu financiamento da Fondazione Compagnia di San Paolo, em torno do qual as forças que fazem parte da nossa rede de relações se uniram: associações sociais voluntárias, privadas e públicas, escolas e distritos sócio sanitários. Três são os grupos-alvo do projeto: as crianças que precisam continuar a encontrar pelo menos virtualmente os seus educadores, os deficientes graves que, com todo o equipamento de segurança apropriado, continuamos a visitar pessoalmente, e os idosos. “Onde amiche” chega a todos os destinatários do projeto através de ferramentas tecnológicas (que estamos comprando e doaremos para aqueles que precisam delas) e visa remover essas pessoas do isolamento que foi criado durante a quarentena".

Maurizio Cantamessa: "Há três anos estamos escrevendo um relatório social e no último de novembro passado - em tempos insuspeitos - escrevemos: "é dentro de situações de fragilidade que descobrimos que ninguém pode se salvar sozinho, que dependemos um do outro e que essa dependência não é um limite para a nossa liberdade. A fragilidade se torna a condição para realizar possibilidades". Já somos frágeis, somos cooperativas sociais de integração do trabalhador no mercado, e nunca imaginamos que nos encontraríamos em uma situação como essa: não escondo nossa preocupação de um futuro muito próximo. Pensamos em como não deixar nossos trabalhadores em casa e surgiu a ideia de produzir as tão almejadas máscaras. Uma de nossas fábricas, onde trabalham normalmente 70 pessoas que vêm de dificuldades sociais, tem 4 clientes que, por diferentes razões, trabalham com vários tipos de tecidos. Tivemos uma reunião e descobrimos entre os nossos que tínhamos uma boa habilidade de corte, um outro tinha uma boa habilidade de costura... na prática, criamos uma colaboração entre clientes para os quais começamos uma produção de máscaras. Foram dias extraordinários. Assim que se soube que talvez começássemos a produzir máscaras, chegaram 10 pedidos (do açougueiro que encomendou 10, até a Região da Ligúria) e em todo esse processo, certamente a capacidade de trabalhar em rede foi o que fez a diferença".

Domenico PanichiDomenico Panichi é o presidente do Consórcio de Cooperativas Il Picchio di Ascoli Piceno, cerca de vinte cooperativas que, em sua maioria, lidam com serviços para crianças (creches, jardins de infância e escolas) que obviamente pararam com a crise do Coronavírus. "Nossos profissionais, também de casa, têm feito um trabalho muito importante na manutenção dos relacionamentos. Nossos educadores das creches, por exemplo, estão em constante vídeo chamada com as suas crianças, mantendo vivo o relacionamento com elas e dando apoio às famílias, e o interessante é que não tivemos que pedir nada a eles: praticamente todos se empenharam indo além de suas atividades normais. Também aqui, a rede foi criada com as outras realidades do território e com os pais, para lidar com o problema da gestão das crianças na ausência de estruturas educacionais operacionais, para quando os pais voltarem ao trabalho. O projeto "Um metro de você, mas sob o céu" está sendo criado para crianças de 0 a 6 anos de idade, que visa oferecer pequenos grupos com um educador e um agente de segurança sanitária". Um projeto que será proposto como um modelo à Região para a gestão dos acampamentos de verão.

Ornella Seca 13 ridOrnella Seca é uma agente de seguros com várias agências espalhadas pelo território: "Somos um serviço essencial para o qual tivemos que continuar trabalhando, mas o medo bloqueou a todos: as informações não eram claras, tivemos que higienizar e proteger os escritórios e não tínhamos os materiais. Nós nos organizamos, produzimos nosso próprio gel desinfetante e as barreiras de Plexiglas (acrílico) necessárias. Reduzimos consideravelmente nosso horário de trabalho. Graças às relações construídas ao longo do tempo, avaliamos juntos os vários problemas; eu não sabia como dizer ao meu pessoal que era obrigada a colocar alguns deles no seguro desemprego, mas depois ficou claro que aqueles que ficavam em casa poderiam nos substituir mais tarde se ficássemos doentes. Em pouco tempo foi possível receber os clientes com segurança e, no final, para os nossos clientes o pagamento do seguro tornou-se um "momento de relacionamento", ocasiões em que as pessoas, tranquilizadas, puderam nos dizer o que estavam vivendo".

Um único fio de ouro liga as experiências de Pietro, Livio, Paolo, Simona, Maurizio, Domenico e Ornella nesse perído da Covid-19: ter cuidado das relações com colaboradores, clientes e fornecedores durante anos proporcionou-lhes um capital precioso e verdadeiramente surpreendente de criatividade, de disponibilidade em construir redes e reciprocidade, que gerou soluções simples e ao mesmo tempo engenhosas, que sem dúvidas são o fruto de uma "inteligência coletiva". Realmente, para provar os fatos, os bens relacionais provaram ser um excelente investimento para os momentos de crise.

Reveja o webinar de 22 de abril

 

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